sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Visitantes exóticos em lugares um poucos menos exóticos.

Depois de 5 anos trabalhando com turistas no litoral norte de São Paulo, decidi analisar mais detalhadamente essas criaturas tão... curiosas.
Em primeiro lugar, devo esclarcer que há duas espécies de turista: o caipira e o metropolitano. Não há o que temer: os dois tipos apresentam comportamentos bizarros, suficientes para alimentar esta pequena análise.

Comecemos pelos caipiras.


Turista caipira viaja no mínimo seis horas para chegar à praia, com uma penca de filhos e uma quantidade absolutamente desnecessária de malas e equipamentos que ele não usaria nem em um mês, muito menos em 5 dias.
Aqueles que não são muito conhecidos em sua cidade de origem são, geralmente, perfeitamente amigáveis e você passa até a gostar deles.
Há, entretanto, aquele tipinho sórdido, que é conhecido no vilarejo, quase venerado. Esse, quando viaja, espera que todos lhe tratem com aquela deferência usualmente reservada a figuras tão ilustres quanto o clínico geral de Pipoquinholândia. E, à noite, ele até usa terno para ir jantar na pizzaria, porque é isso que gente importante usa!

Já os metropolitanos...

O turista de cidades grandes vem para o litoral paulista procurando algo muito específico: ele procura São Paulo, com vista para o mar.
Ele viaja à noite, por duas ou três horinhas, passando reto por todos os restaurantes (abertos!) no caminho. Então, ele chega ao seu destino: aquele bairro mais afastado do centro, em uma cidade pequena, local ideal para descansar e sair daquela rotina que ele não pretende, em absoluto, quebrar.
E é nesse momento que nosso caro turista metropolitano vocaliza uma série trágica de comentários e perguntas deveras infelizes:

- "São duas da manhã... Não tem nenhum lugar aberto para comer por aqui, né?"
(O quê, aberto assim como aqueles quinze que você viu no caminho para cá e passou reto? Não, não tem, não).

- (No dia seguinte, na hora do almoço) Tem algum restaurante bom aqui por perto? Eu não queria pegar o carro pra ir naquele a 10km daqui... (Ah, aqui nesse bairro afastado do centro, que você escolheu para descansar não tem, não. E eu entendo perfeitamente... Dirigir por 5 minutos em uma estrada litorânea, com o risco de você conhecer um pouquinho dessa pequena cidade e talvez até realmente avistar uma praia, pra quem mora em São Paulo, seria uma dor insuportável).

- (Às 3 da manhã) Minha esposa está com azia... Não tem nenhuma farmácia aqui por perto? (Tem, claro, e você só precisa esperar mais 5 horas até que elas abram... Mas aí já será horário de ir para a praia e quem sabe, se a sua esposa se entupir novamente de pastel engordurado e meio estragado junto com cerveja quente com areia dentro, a azia dela não passa?)

- De que horas a que horas eu posso usar a piscina? (Bom, imaginei mesmo que depois de viajar três horas para uma cidade litorânea e estourar o limite do seu cartão de crédito para pagar hospedagem, você estaria ansioso para passar o dia inteiro em um buraco azulejado com água clorada... Das 9 às 9).

- Eu não queria pegar muito trânsito pra voltar... O que será que eu faço? (Considerando que você escolheu viajar no feriado, eu diria que você vai pegar muito trânsito para voltar... Faça xixi antes de sair e leve um baralho pra jogar no caminho. Mas se quiser mesmo aproveitar o feriado e não pegar trânsito, você pode ir embora segunda-feira e chegar em São Paulo no meio do seu expediente).

Eu sei, é claro, que nem todos são assim... O que, aliás, é a única coisa que me mantém nesse negócio. Ainda existe gente decente e com alguma noção. Não muita, mas existe. Talvez.

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